Por Prof. Dr. César Benfatti
Com o advento dos implantes dentais e os fatores que regem o processo de osseointegração, a implantodontia relata uma alta taxa de sucesso e previsibilidade dos procedimentos reabilitadores implanto suportados. Entendido este processo, novas perspectivas visam o comportamento longitudinal das reabilitações protéticas totais sobre implantes menores que 8mm em associação ou não com implantes inclinados de comprimentos maiores.
Volume tecidual ósseo, em quantidade e densidade, é uma das condições triviais que regem o processo de osseointegração por permitir o íntimo contato da superfície do implante com o tecido mineralizado, condição esta chamada de estabilidade primária. Devido ao padrão de reabsorção maxilo-mandibular pós-extração, a instalação de implantes osseointegrados pode ser comprometida pela indisponibilidade deste tecido. Sendo assim, vários autores têm sugerido alternativas cirúrgicas e regenerativas, principalmente para a região posterior da maxila e mandíbula. Técnicas como lateralização do nervo alveolar inferior, associação de biomateriais sintéticos com fibrina leuco-plaquetária autóloga, além de regenerações ósseas guiadas (ROG) e enxertos em bloco autógenos ou alógenos para a recuperação óssea vertical e horizontal têm sido propostos como alternativas a este cenário. Outra alternativa, implantes inclinados têm sido propostos como uma importante ferramenta em casos de atrofia maxilo-mandibular.
Atualmente, os implantes curtos têm sido empregados como uma eficiente opção frente as técnicas de enxertia por permitir uma abordagem muito mais conservadora, altamente previsível, com menor espaço de tempo de tratamento, menor risco cirúrgico e morbidade pós-operatória, contribuindo, muitas vezes, para uma restauração protética imediata da condição bucal do paciente.
O emprego de implantes short com sucesso pode ser evidenciado no caso clinico abaixo. O paciente foi reabilitado mandibular pela técnica all on four, no qual foram utilizados 2 implantes curtos na região anterior, dois implantes convencionais posteriores próximos ao forame mentoniano, restabelecimento protético total imediato fixo inferior e prótese total muco suportada superior, tal opção cirúrgica foi idealizada no intuito de permitir a inclinação dos implantes posteriores, diminuindo o cantilever e evitando o choque dos implantes posteriores com os anteriores, o caso possui um acompanhamento de 2 anos. Diante do exposto, Gentile e colaboradores, em 2005, investigaram a taxa de sucesso de implantes curtos BiconTM e os comparam à de implantes não curtos. Um total de 35 pacientes foram utilizados, os quais receberam no total 172 implantes (45 curtos e 127 não curtos). Quanto aos implantes curtos, 33 foram instalados na região posterior de mandíbula (73,3%), 11 na região posterior de maxila (24,4%) e um na região anterior de mandíbula (2,3%).
Transcorridos 12 meses, a taxa de sucesso da terapia chegou a 92,2% para os implantes curtos e a 95,2% para os não curtos. . Os resultados sugerem que os implantes curtos integram com alta previsibilidade e são capazes de suportarem as cargas oclusais. Misch e colaboradores, em 2006, analisaram a utilização de implantes curtos na região posterior de maxila e mandíbula. Foram inseridos 745 implantes em 273 pacientes. A maioria deles (562) media 4,0 x 9,0 mm, outros 89 implantes de 5,0 x 9,0 mm, 4 medindo 6,0 x 9,0 mm, 60 de 3,5 x 9,0 mm, 29 de 4,0 x 7,0 mm e apenas um de 5,0 x 7,0 mm. Foram realizadas 338 próteses fixas implanto suportadas, das quais 102 eram unitárias e 236 suportadas por múltiplos implantes. Após um período de cinco anos de acompanhamento, registraram-se seis perdas que ocorreram antes da confecção das próteses definitivas . A taxa de sucesso chegou a 99,2%. O artigo conclui que os implantes curtos podem apresentar elevados índices de sucesso se conceitos biomecânicos forem respeitados como adequada proporção coroa/implante, número de implantes igual ao número de dentes perdidos, não utilização de cantiléveres, esplintagem das coroas e redução do tamanho da mesa oclusal.
Nisand e Renouard, em 2014, avaliaram os dados disponíveis sobre a taxa de sobrevivência de implantes curtos e extra-curtos e qual o impacto do aumento da proporção coroa/implante nas possíveis complicações biológicas e técnicas. Além disso, revisaram indicações e procedimentos para implantes de comprimento curto na prática clínica, juntamente com uma discussão sobre como proceder com a seleção deste dispositivo na rotina cirúrgica. Relataram que os implantes curtos podem ser utilizados com sucesso tanto em casos unitários como múltiplos posteriores mesmo com uma proporção coroa/implante inversa, substituindo a necessidade de cirurgias complexas, reduzindo a morbidade, o custo e o tempo de tratamento. Sugerem um tempo de acompanhamento mais longo de até 10 anos (para séries de casos e ensaios clínicos randomizados). Estudos adicionais também devem investigar o impacto da proporção coroa-implante > 2,0 e a possibilidade de usar implantes extra-curtos. O implante mais longo possível nem sempre deve ser usado para melhorar o posicionamento tridimensional no rebordo, pois pode comprometer a fase protética. A utilização de implantes curtos é uma alternativa viável para reabilitação de arcos atróficos que deve ser considerada durante o planejamento das reabilitações orais totais com implantes osseointegrados. Correto planejamento, posição, seleção e quantidade das fixações, além de acompanhamento longitudinal dos pacientes são fatores primordiais para sucesso final de um caso clínico com implantes curtos.






Referências
- Gentile MA, Chuang SK, Dodson TB. Survival estimates and risk factors for failure with 6 x 5.7-mm implants. Int J Oral Maxillofac Implants. 2005 Nov-Dec;20(6):930-7
- Misch CE, Steignga J, Barboza E, Misch-Dietsh F, Cianciola LJ, Kazor C. Short dental implants in posterior partial edentulism: a multicenter retrospective 6-year case series study. J Periodontol. 2006 Aug;77(8):1340-7.
- Nisand D, Renouard F, Short implant in limited bone volume. Periodontol 2000. 2014 Oct;66(1):72-96.