Autor: Prof. Rodrigo Melim Ferreira
No princípio da implantodontia, a grande preocupação estava relacionada à osseointegração dos implantes. Branemark et al. (1969) publicaram resultados de seus experimentos laboratoriais em animais que indicavam claramente que a ancoragem direta do implante no tecido ósseo seria possível desde que algumas diretrizes fossem seguidas. Em 1977, Branemark et al. publicaram o primeiro artigo clínico demonstrando seus dez anos de experiência no tratamento de mandíbulas edêntulas com implantes osseointegrados. Nesse primeiro momento da osseointegração, os implantes eram utilizados para reabilitar pacientes com grandes perdas dentárias. Nos primeiros casos foram instalados quatro ou cinco implantes que suportavam próteses totais, denominadas por próteses protocolo.
Nessa época, os tratamentos com implantes estavam voltados somente para a parte cirúrgica, pois o maior desafio era a obtenção da osseointegração. Com o passar dos anos, a osseointegração tornou-se rotina, e os implantes passaram a ser utilizados em reabilitações parciais e unitárias. Contudo, começaram a surgir problemas pela falta de componentes protéticos para solucionar esses casos. Então, a indústria procurou desenvolver novos intermediários que os solucionassem. O posicionamento dos implantes, em alguns casos, continuava sendo muito desfavorável para a confecção de próteses que aliassem estética, função e longevidade.
Início do planejamento reverso
Diante disso, há cerca de 20 anos, alguns autores, como Garber (1995), relataram que originalmente os implantes eram instalados de acordo com a disponibilidade óssea. Garber publicou um artigo descrevendo uma nova maneira de abordagem cirúrgica, onde se deveria prever a restauração final ideal e desenvolver um plano de tratamento que viabilizasse essa restauração. Essa maneira de planejar ficou conhecida como planejamento reverso, e envolve todas as etapas necessárias para um posicionamento tridimensional ideal do implante.
Segundo Volpato et al. (2012), a prótese sobre implante se difere de outras modalidades de prótese porque requer, além do planejamento protético, o planejamento cirúrgico para a instalação do implante. Dentro desse processo de planejamento podem ser necessários procedimentos adicionais de reconstruções ósseas e/ou gengivais para viabilizar um resultado adequado do ponto de vista estético e funcional.
O planejamento reverso pode ser realizado de diversas formas, variando de acordo com as particularidades de cada situação clínica. Para casos unitários ou parciais, com ou sem perda de tecido ósseo e gengival, geralmente se realiza o enceramento de diagnóstico prévio, que pode ser provado em boca por meio de um mock-up e, posteriormente, transformado em guia cirúrgico (podendo ser um guia tomográfico), que orientará a instalação dos implantes em suas posições ideais.
Quando for necessário manipular ou reconstruir tecido ósseo e/ou gengival, esse enceramento mostrará a extensão e o volume de tecido perdido, e ajudará no planejamento para definir se será realizada apenas a etapa de reconstrução ou se será viável instalar os implantes em um mesmo procedimento.
Em casos extensos e de reabilitações da arcada total, quando o paciente ainda possui dentes, geralmente se confecciona um plano de cera com posterior prova de dentes (se o caso permitir) para só então se realizar a extração dos dentes no modelo, regularização do rebordo alveolar remanescente e confecção do guia cirúrgico. Já quando o paciente não possui dentes, procede-se da mesma maneira que uma prótese total, sendo necessário confeccionar o plano de cera, montagem e prova de dentes. Neste momento é solicitado ao laboratório que transforme essa montagem em guia cirúrgico total para determinar a posição de instalação dos implantes.
Sistema de implantes Arcsys
Pensando na evolução da implantodontia, a FGM buscou oferecer com o Sistema Arcsys inovações que visam melhorar e simplificar algumas limitações protéticas dos sistemas de implantes atuais por meio de uma linha compacta de componentes personalizáveis, que permite ao cirurgião-dentista resolver as mais diversas situações com um estoque de componentes menor.
Cicatrizadores multifuncionais
O sistema conta com cicatrizadores multifuncionais, instalados diretamente nos implantes e podem ser utilizados como condicionadores gengivais ou como suporte para próteses provisórias. Esses cicatrizadores são confeccionados em PEEK, um polímero termoplástico biocompatível de alto desempenho. São facilmente personalizados no consultório para atender às mais variadas situações. Sendo assim, existem apenas quatro cicatrizadores que atendem a todas as situações.
Além dessa função modeladora, podem ser preparados (em boca ou fora dela) para suportar um dente de estoque ou coroa prensada. A grande vantagem de utilizá-los como suporte para prótese provisória é promover o condicionamento gengival antes de selecionar o componente protético, evitando, assim, a troca desses intermediários antes da confecção da prótese definitiva.
Componentes protéticos
O Sistema Arcsys foi desenvolvido com o intuito de suprir algumas limitações dos componentes protéticos convencionais, e, ao mesmo tempo, para simplificar a etapa protética e reduzir o estoque de componentes que o clínico precisa dispor em seu consultório.
O sistema dispõe de dois diâmetros de munhão (3mm e 4,2mm), podendo cada um desses diâmetros apresentar alturas protéticas de 4 ou 6mm. Todos esses munhões estão disponíveis com alturas de transmucoso de 0,5mm a 2mm (não anguláveis) ou 2,5 a 5,5mm (anguláveis).
Para as próteses aparafusadas, o Sistema Arcsys dispõe de dois tipos: os Mini Pilares e Pilares, com alturas de transmucoso que variam de 0,5mm a 2 mm (não anguláveis) e de 2,5mm a 5,5mm (anguláveis).
A possibilidade de personalização da angulação em até 20° dos componentes (munhões ou pilares) com cinta de 2,5mm de altura ou maior não elimina a necessidade do planejamento reverso, mas permite um refinamento da posição de saída do componente protético. Isso permite ao técnico a construção de infraestruturas com resistência adequada e espaço suficiente para o material de cobertura.
Esse é um grande diferencial do Sistema Arcsys frente a outros disponíveis no mercado, que geralmente disponibilizam apenas duas angulações (15°/17° e 30°) em seus componentes, limitando muito a perfeita resolução dos casos em que exigem angulações intermediárias. Além disso, a maioria dos sistemas não possui opções de componentes angulados para próteses unitárias aparafusadas, fazendo com que o clínico, obrigatoriamente, realize próteses cimentadas nestas situações.
Outro diferencial do Sistema Arcsys é que os pilares aparafusáveis servem tanto para próteses unitárias quanto para as múltiplas, pois os cilindros utilizados para confeccionar as infraestruturas podem ser com ou sem antirrotacional. Esses cilindros estão disponíveis com base de CoCr ou totalmente calcináveis.
Transferentes multifuncionais
Mais uma vez, pensando na redução do estoque para o clínico, a FGM instituiu transferentes multifuncionais também confeccionados em PEEK para todos os seus respectivos intermediários protéticos. Além da transferência, da informação de posicionamento para o laboratório, são utilizados como suporte para próteses provisórias e como protetores desses componentes.
Referências bibliográficas
- Branemark PI, Adell R, Breine U, Hansson BO, Lindstrom,J Ohlsson A. Intra-osseous Anchorage of dental prostheses I. Experimental Studies. Scandinavian Journal of Plastic Reconstrutive Surgery 1969; 3:81-100.
- Branemark PI, Hansson BO, Adell R, Breine U, Lindstrom A, Hallén O, Ohman A. Osseointegrated implants in the treatment of the edentulous jaw. Experience from a 10-year period. Scandinavian Journal of Plastic Reconstrutive Surgery 1977; 16 (suppl).
- Garber DA. The esthetic dental implant: letting restoration be the guide. J Am Dent Assoc 1995; 126:319-325.
- Volpato CAM, Garbelotto, LGD, Zani, IM, Vasconcelos, DK. Próteses odontológicas: uma visão contemporânea – fundamentos e procedimentos – São Paulo: Santos, 2012