Autor: Mauricio Clavijo Beltrán (Graduado em Odontologia pela FOP-Unicamp / Especialista em Prótese Dentária pela FOB-USP / Especialista em Implantodontia pela APCD-SP)
Dados estatísticos governamentais mostram que a expectativa de vida do brasileiro está aumentando. Em 2000, a expectativa de vida ao nascer da população brasileira era de 68,6 anos, enquanto no ano de 2012 foi de 74,6 anos. Segundo projeções futuras da pirâmide etária absoluta, 30% da população terá mais de 60 anos em 2050.
A cárie dentária é a principal causa de perdas dentárias. A fluoretação da água de abastecimento e cremes dentais fluoretados trouxeram modificações significativas no perfil epidemiológico da cárie no Brasil. Com isso, vemos que, além da população brasileira viver mais, ela tem atingido a maturidade com menos perdas dentárias.
Isso mostra que a atenção ao idoso terá um foco cada vez mais importante na clínica odontológica. Alterações na coloração dos dentes; desgastes dentários por erosão, abrasão e abfração; perda da dimensão vertical de oclusão; ausência de guias oclusais; diminuição do fluxo salivas associados a problemas sistêmicos, como hipertensão arterial e refluxo gástrico esofágico são comuns no paciente idoso.
A resina composta é uma opção de material odontológico cuja técnica restauradora é rápida, conservadora, segura e está consagrada na literatura. A desvantagem desse material é a resistência ao desgaste abrasivo que é inferior às cerâmicas odontológicas e à alteração de coloração. Nos últimos anos, houve uma melhoria nas propriedades mecânicas dos compósitos com a inclusão de novas tecnologias durante o processo de fabricação desses materiais. O mesmo ocorreu com os abrasivos que dão o acabamento e polimento a essas restaurações, permitindo uma maior lisura superficial, diminuição de manchas por pigmentação e a retenção de biofilme bacteriano. Essas alterações levaram a um aumento na estabilidade e longevidade de restaurações com resinas compostas.
No paciente idoso, as restaurações com resina composta são uma boa opção de tratamento minimamente invasivo. Elas permitem tratamentos previsíveis sem a necessidade de desgaste do remanescente dentário, possibilitando uma boa adaptação na margem dente/restauração.
Relato do caso clínico
O paciente de 65 anos procurou o consultório privado com a queixa de insatisfação no desgaste dos dentes anteriores. O exame clínico constatou que, além do severo desgaste dental nos dentes anteriores, havia presença de diastema entre os incisivos superiores, ausência de guias oclusais, alteração de coloração dental e perda de dimensão vertical de oclusão. Foi proposta ao paciente uma reabilitação oral com restabelecimento da dimensão vertical de oclusão. O paciente rejeitou as propostas de tratamento ortodôntico prévio, o que facilitaria o posicionamento dentário dos incisivos centrais. Na região anterior, o material odontológico selecionado foi a resina composta para confecção de facetas diretas minimamente invasivas.
Devido à dificuldade de trabalho em um substrato escurecido, foi realizada uma sessão de clareamento dental supervisionado em consultório. Aguardadas duas semanas para a liberação do oxigênio proveniente do tratamento, foi dada continuidade no tratamento com a moldagem para o enceramento diagnóstico.
O enceramento diagnóstico foi confeccionado com base na técnica do Digital Smile Design, em que linhas faciais e o contorno labial são utilizados para a definição de um novo arranjo estético anterior. Na tentativa de obter-se uma proporção de altura e largura adequada dos incisivos centrais sem desgastes dentais severos, foi observada a possibilidade da diminuição do diastema presente sem o seu total fechamento. Com a tentativa de prever o resultado final em boca, o tratamento foi seguido com uma prova do mock-up do enceramento. O paciente aprovou o resultado obtido durante a prova.
Antes de iniciar a confecção das facetas de resina nos dentes anteriores, foi feita a seleção de cor das resinas para determinar quais seriam utilizadas. Foram aplicadas as resinas Opallis (FGM), que apresentam boa estabilidade de cor. Por essa razão, a tomada de cor foi feita com a própria resina sobre a superfície dentária.
A seguir, foi feito o isolamento absoluto e arredondamento das arestas e ângulos vivos com discos de acabamento, para melhor distribuição de forças, diminuindo o risco de fratura. Esse cuidado não tem como intenção mascarar a interface dente/restauração, como o bisel feito com brocas diamantadas. O mascaramento é feito com o próprio material restaurador, que possui adequadas propriedades óticas.
O condicionamento com ácido fosfórico 37% foi feito em toda superfície dental, seguido de lavagem, secagem, aplicação e polimerização do adesivo. A matriz de silicone foi posicionada para a confecção da parede palatina com a resina Opallis T-Neutral. A estratificação foi seguida com a aplicação de fina camada da resina Opallis OP, na tentativa de evitar o acinzentamento da restauração causado pelo transparecimento do fundo negro da boca. As resinas Opallis EA2 e EA1 revestiram o conjunto nas porções cervical e médio/incisal, respectivamente. Nas áreas de reflexão de luz proximais, foi aplicada a resina Opallis VH.
Concluídas as facetas diretas, foi dado acabamento com os discos Diamond Pro (FGM), seguindo a sequência decrescente de rugosidade. Foram removidos os excessos na região cervical, regularizada a superfície, regularizada a curvatura incisal, feita a abertura das ameias incisais, removidos os excessos proximais e delimitadas as áreas de reflexão de luz. Com o auxílio de uma broca diamantada formato chama, foi feita uma textura superficial. Finalizada a sequência de discos abrasivos, foi dado o polimento Diamond R (FGM). O brilho final foi dado com o Feltro Diamond (FGM). É importante seguir a sequência de abrasivos para a obtenção de melhores resultados. Uma sequência similar foi feita para a devolução das bordas incisais dos dentes inferiores anteriores.