Enxertos sintéticos: por que utilizar

Autor: Prof. Dr. Leonardo Bez

 

A utilização de biomateriais na clínica dos cirurgiões-dentistas tem se tornado corriqueira e de extrema importância para obtenção da tríade saúde, função e estética nas reabilitações com implantes dentários. Contudo, pairam dúvidas em relação a qual, quando e como utilizá-los para que se possa obter sucesso nas regenerações.

composicao nanosynt - Enxertos sintéticos: por que utilizar

Composição

Os enxertos ósseos podem ser obtidos de diferentes origens: autógeno (mesmo indivíduo), alógeno (mesma espécie), xenógenos (espécies diferentes) ou aloplásticos (sintéticos)²,³. Atuam por meio de três diferentes mecanismos, que podem ou não estar associados:

Osteogênese

O crescimento ósseo deriva de células viáveis. O novo osso é regenerado pelos osteoblastos e pelas células que se originam na medula transferida com o enxerto¹, sendo capaz de promover síntese de novo tecido ósseo logo após o procedimento cirúrgico⁴.

Osteoindução

O crescimento ósseo deriva de células osteoprogenitoras, que se diferenciam sob a influência de agentes indutores, ou seja, caracteriza-se pela capacidade de recrutar novas células formadoras de osso para o local enxertado⁴.

Osteocondução

O crescimento ósseo deriva de uma neoformação aposicional. Forma-se um arcabouço interconectado para depósito e proliferação celular com atividade osteoblástica¹. Assim, possibilita-se adesão e proliferação para a sedimentação de novo osso e formação de novos vasos sanguíneos⁴.

Enxertos sintéticos são, em sua maior parte, compostos por cerâmicas à base de hidroxiapatita (HA) e ß-fosfato tricálcico (ß-TCP). Ambos são altamente biocompatíveis, sendo que a HA possui maior tempo de degradação que o ß-TCP8. Associado à evolução da ciência regenerativa, tem ganhado muito espaço no meio odontológico devido às limitações dos enxertos autógenos, alógenos e xenógenos. Possuem vantagens de não ser patológicos, ser prontamente disponíveis e ser processados de acordo com suas propriedades físico-químicas, apesar de não possuir as propriedades de osteogênese e osteoindução⁷.

A hidroxiapatita é empregada em diversas áreas médicas devido às suas características químicas e estruturais. Não causa uma resposta inflamatória exacerbada ou indesejada, não é antigênica nem cancerígena⁸.

O ß-TCP é altamente osteocondutor, com enorme capacidade de reabsorção, apresentando resultados clínicos e histológicos muito satisfatórios em comparação com outras cerâmicas, tanto em animais quanto em humanos8,10,11,12,13,14. Compostos puros de ß-TCP não apresentam um balanço entre a taxa de reabsorção e a formação óssea, necessitando ser associados à HA para manter um arcabouço na área implantada por mais tempo. À medida que o ß-TCP é absorvido, mais espaços são disponibilizados para ser preenchidos pelas células osteoprogenitoras, acelerando o processo de regeneração óssea8,13,14.

Os resultados clínicos esperados e o comportamento dos biomateriais são diretamente influenciados pelas suas características mecânicas, proporção, composição físico-química, tamanho e morfologia das suas partículas4. Materiais sintéticos com estruturas nanométricas se apresentam como a melhor escolha para procedimentos de enxertia, pois mimetizam o osso natural, que é nanoestruturado (composto por nanocristais de HA e nanofibras de colágeno), assumindo uma estrutura interconectada altamente porosa⁴, que favorece a vascularização, migração de osteoblastos e deposição óssea.

Do ponto de vista bioquímico, micro e nano poros permitem ainda uma melhor oxigenação do tecido ósseo em formação, pela presença de grupamentos químicos específicos nas interfaces do biomaterial, além de elevarem a adesão de osteoblastos entre essas células e o biomaterial. O tamanho dos grânulos de HA interfere na produção de várias citocinas. Grânulos esféricos de HA (de 150 a 300 micrômetros) induzem a produzir menores quantidades de IL-6 e TNF-alfa (relacionadas à ativação de osteoclastos) e também podem estimular a produção de IL-18, o que leva a uma menor quantidade de osteoclastos.

Esse balanço entre menores níveis de IL-6 e TNF-alfa, conjugado a uma elevação nos níveis de IL-18, pode levar a uma maior quantidade de tecido ósseo⁴.

Dentre as várias indicações dos enxertos sintéticos, podemos citar

1. Defeitos ósseos intraorais e maxilofaciais pequenos ou médios e que apresentem no mínimo três paredes remanescentes de suporte.

1. Defeitos osseos intraorais e maxilofaciais pequenos ou medios e que apresentem no minimo tres paredes remanescentes de suporte - Enxertos sintéticos: por que utilizar

1A, 1B e 1C. Cirurgia de ROG para ganho de espessura em região anterior de maxila. 1D. Reabertura do enxerto com oito meses pós-operatório.

2. Preenchimento alveolar de um ou vários elementos (ex., após exodontia).

2. Preenchimento alveolar de um ou varios elementos ex. apos - Enxertos sintéticos: por que utilizar

2A e 2B. Instalação de implante imediato e preenchimento do “gap” com Nanosynt. 2C: Nanosynt. Pós-operatório de três meses (2C).

3. Reconstrução (horizontal e/ou vertical) em casos de defeito ósseo no rebordo alveolar.

3. Reconstrucao horizontal e ou vertical em casos de defeito osseo no rebordo alveolar - Enxertos sintéticos: por que utilizar

A figura 3A exemplifica um defeito ósseo com necessidade de abordagens reconstrutivas. 3B. Vista oclusal do defeito, tanto em altura quanto em espessura. 3C. Após a instalação de implantes orientados pelo planejamento reverso, a região é regenerada com Nanosynt.

Biomateriais à base de fosfato de cálcio bifásico têm apresentado resultados seguros, previsíveis e muito confiáveis.

Pesquisas científicas e os próprios resultados clínicos têm demonstrado o elevado potencial regenerativo dos biomateriais sintéticos, com performance semelhante e até superior para estes quando comparados a marcas conhecidas de origem animal. Isso se deve à associação das características químicas, físicas e morfológicas (relacionadas, sobretudo, à porosidade), somadas aos benefícios econômicos e de menor morbidade possibilitados por esses biomateriais.

4. Regeneração óssea peri-implantar.

4. Regeneracao ossea peri implantar - Enxertos sintéticos: por que utilizar

4A e 4B. Cirurgia de regeneração óssea peri-implantar.

5. Levantamento do seio maxilar (sinus lift).

5. Levantamento do seio maxilar sinus lift - Enxertos sintéticos: por que utilizar

5A. Exposição da loja sinusal para levantamento de assoalho de seio maxilar. 5B. Acomodação do biomaterial sintético Nanosynt (500-1000um) associado L-PRF no sítio cirúrgico. 5C. Tomografia pós-operatória após oito meses de proservação.

6. Preenchimento de defeitos ósseos após apicectomia, remoção de cistos ósseos, osteotomia corretiva.

6. Preenchimento de defeitos osseos apos apicectomia remocao de cistos osseos osteotomia corretiva - Enxertos sintéticos: por que utilizar

6A. Exposição do defeito e preparo do sítio paraendodôntico previamente ao preenchimento com Nanosynt (200-500).

 

7. Tratamento regenerativo periodontal.

7. Tratamento regenerativo periodontal - Enxertos sintéticos: por que utilizar

7A. Exposição do defeito periodontal previamente ao preenchimento com Nanosynt (200-500 um).

1- Lemons, J. et al. Biomaterials, biocompatibility and peri-implant considerations. Dent. Clin. North Am., v. 30, p. 3-23, 1986.
2- Garofalo GS. Autogenous, allogenetic and xenogenetic grafts for maxillary sinus elevation: literature review, current status and prospects. Minerva Stomatol 2007; 56: 373-92.
3- Misch CE. Biomateriais utilizados em implantes dentários. In: Misch CE. Implantes dentários contemporâneos. 2a Ed. São Paulo: Ed. Santos; 2000.p.271-302.
4- Paim, BA. O futuro da enxertia óssea. FGM News, v.01, p. 75-77, 2017.
5- Conz MB; Campos CN; Serrão SD; Soares GA; Vidigal Jr GM. Caracterização físico-química de 12 biomateriais utilizados como enxertos ósseos na Implantodontia. Implantnews 2010; 7(4): 541-6.
6- Khoury F., Khoury C. Mandibular bone block grafts: Diagnosis, instrumentation, harvesting techniques and surgical procedures: Onlay bone grafts and 3D bone reconstructions. In: Khoury F, Antoun H, Missika P. Bone augmentation in Oral Implantology. Chicago: Quintessence Publishing; 2007.p.115-212.
7-Tovar N. et al. The physicochemical characterization and in vivo response of micro/nanoporous bioactive ceramic particulate bone graft materials. Materials Science and Engineering C 43 (2014) 472–480.
8- Uzeda M.J. et al. Randomized clinical trial for the biological evaluation of two nanostructured biphasic calcium phosphate biomaterials as a bone substitute. Clin Implant Dent Relat Res. 2017;1–10.
9- Freitas G. et al. Nanosynt: avaliação histológica e histomorfometrica de um novo substituto ósseo. O uso da nanotecnologia na conquista de um melhor padrão de osteocondução. ImplantNews; 2014; 11(3):296-301.

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