Autores: Bruno Lippmann: Graduado em Odontologia pela Univille (SC) / Aluno do curso de Especialização em Ortodontia do Instituto Thum de Pós-Graduação e Biopesquisas – Joinville (SC) / Daniel Gheur Tocolini: Coordenador do Ortho Fast Self Ligation Center – Curitiba (PR) / Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia Imed/Thum – Joinville (SC) / Especialista em Odontopediatria, OFM e Ortodontia / Mestre em Ortodontia pela Uniararas (SP) Credenciado Damon System / Ellena Ometto Antoniali: Professora do Curso de Especialização em Ortodontia em Aparelhos Autoligados Thum Joinville (SC) / Especialista em Ortodontia, Mestre em Ortodontia pela Uniararas (SP) Credenciada Damon System / Iduilton Grabowski Jr.: Professor do Curso de Especialização em Ortodontia em Aparelhos Autoligados Thum Joinville (SC) / Especialista em Ortodontia, mestre em Ortodontia pela Uniararas (SP)
No ano de 1955, o norte-americano Michael G. Buonocore publicou no renomado Journal of Dental Research um estudo que viria a se tornar um dos precursores da adesão dental moderna. Na ocasião, o autor abordava a alteração da superfície dental via tratamento químico para produzir uma interface com maior capacidade adesiva. Embora direcionado para a adesão de materiais de selamento na prevenção de cárie, o estudo influenciou todas as áreas da odontologia, trazendo conceitos de adesão que continuam sendo empregados atualmente.
O protocolo de adesão dental juntamente com a criação de materiais poliméricos permitiu à ortodontia que, ao invés da soldagem de bráquetes e tubos a bandas dentais, se fizesse a adesão direta das peças em esmalte. Além da maior praticidade e facilidade no trabalho, a colagem dos dispositivos favorece a higiene pelo paciente, é menos agressiva aos tecidos periodontais, melhora a estética do paciente em tratamento e permite maior controle dos contatos interproximais, sendo que não há mais necessidade do espaço das cintas metálicas em cada dente.
A colagem dos dispositivos fixos na ortodontia é uma das etapas mais críticas para o sucesso do tratamento ortodôntico. Dependendo da técnica e do sistema empregados, o adequado posicionamento do bráquete influencia diretamente no posicionamento dos dentes. Para uma colagem efetiva com materiais resinosos, são necessários alguns cuidados específicos como adequado isolamento do campo operatório, profilaxia prévia e condicionamento ácido do esmalte. A resina escolhida para a colagem deverá ser capaz de manter as peças em posição durante as medições das alturas de colagem e preferencialmente ser fotopolimerizável para controle do tempo de trabalho.
Relato do caso clínico
Após as etapas de diagnóstico e planejamento, a paciente foi submetida à colagem direta dos bráquetes. Optou-se pelos bráquetes autoligados passivos Portia (3M Unitek) na prescrição MBT.
Para melhor acesso aos dentes e auxílio no isolamento relativo, foi instalado o afastador labial Arcflex (FGM) (Fig. 1), que permite ao paciente obter maior conforto através do descanso de mordida. A profilaxia dental (Fig. 2) foi conduzida com escova profilática e creme dental, objetivando remoção da película adquirida em esmalte. O condicionamento ácido do esmalte (Fig. 3) foi realizado com ácido fosfórico a 37% (Condac 37, FGM) durante 30 segundos, quando então o dente foi copiosamente enxaguado e o esmalte dental foi seco para receber a resina. No caso específico de Orthocem (FGM), não é necessário aplicar adesivo em esmalte, pois o próprio produto já contém um primer que maximiza a adesão. Além de oferecer resistência adesiva adequada,1 esse fato confere ao produto menor tempo clínico de colagem.2 Com o campo operatório livre de umidade, a resina de colagem Orthocem (FGM) foi aplicada na base do bráquete (Fig. 4) o qual foi levado ao dente (Fig. 5) em uma posição próxima a ideal. Devido a sua viscosidade adequada, Orthocem evita o deslocamento da peça durante a remoção dos excessos de resina (Fig. 6). O ajuste fino da posição do bráquete (Fig. 7) foi realizado com instrumento específico e então as margens da resina foram fotopolimerizadas por 10 segundos cada (40s no total por bráquete) (Fig. 8).
Após a colagem de todos os dispositivos, o arco foi instalado. No caso dos aparelhos autoligados, os “stops” são posicionados estrategicamente no arco de modo a guiar a mecânica ortodôntica. Com resistência ao deslocamento e resistência mecânica suficientes, o “stop” resinoso Top Comfort (FGM) pode ser empregado em substituição aos metálicos. O produto pode ser aplicado no arco após sua instalação e então fotopolimerizado por 20 segundos (Figs. 9a e 9b), em um protocolo mais simples que o usual com “stops” metálicos, já que não é necessário remover o arco para aplicar Top Comfort. Caso necessário, o produto pode ser aplicado em ganchos de molares para evitar lesões em mucosa, e pode ser facilmente removido com um pequeno alicate.
Ao concluir a sessão, sugere-se aplicação tópica de fluoreto de sódio a 1,23% (Flúor Care, FGM) durante 1 minuto (Fig. 10) para remineralização de áreas de esmalte que foram condicionadas com ácido e eventualmente não foram cobertas pela resina. Já na segunda sessão, percebem-se os bráquetes e “stops” instalados na paciente (Fig. 11).
Nota-se que a técnica de colagem evoluiu muito ao longo do tempo, e os materiais dentários têm oferecido o suporte necessário para que o trabalho do profissional possa ser mais cômodo e eficiente.