Autores: Linda Wang, Ana Carolina Magalhães, Marcela Pagani Calabria, Luciana Fávaro Francisconi, Luciana Mascarenhas Dantas, Diana Ferreira Gadelha de Araújo, Marília Afonso Rabelo Buzalaf, José Carlos Pereira (Departamento de Dentística, Endodontia e Materiais Odontológicos da Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil)
Introdução
A hiperestesia dentinária (HD), comumente denominada de sensibilidade dentária, é originada principalmente pela exposição de dentina radicular e caracterizada por uma sensação dolorosa oriunda de estímulos térmicos, químicos, mecânicos ou osmóticos que não pode ser atribuída à outra patologia como a cárie dentária. Clinicamente, a dor se manifesta de forma aguda, localizada, desenvolvida rapidamente e com curta duração frente ao estímulo (Bissada, 1994). HD exibe uma prevalência entre 4 a 73% na população adulta (Rees & Addy, 2002) e quando presente por um período prolongado, pode provocar desconforto crônico e desordens emocionais com grande impacto na qualidade de vida dos pacientes (Porto et al., 2009).
Várias abordagens terapêuticas têm sido propostas, destacando-se os agentes químicos, tais como cloreto de estrôncio, fluoreto de sódio (Kishore et al., 2002), oxalato de potássio e nitrato de potássio (Gillam et al., 1999), com o objetivo de selar/obliterar a embocadura dos túbulos dentinários no intuito de reduzir a permeabilidade (Orchardson & Gillam, 2006; Porto et al., 2009). No entanto, o efeito destes agentes não é duradouro, não sendo rara a necessidade de reaplicação periódica. (Porto et al., 2009).
Neste sentido, a FGM Produtos Odontológicos desenvolveu o Desensibilize Nano P, um produto bioativo à base de hidroxiapatita – HAP (tecnologia inovadora de nanopartículas de fosfato de cálcio) para remineralização e dessensibilização do tecido dentário, com potencial para remineralizar a superfície dentária e promover um selamento de qualidade (formação de película impermeabilizante) da interface entre a superfície dentária externa e o ambiente bucal. Este processo, minimizaria a desmineralização e limitaria o acesso de estímulos externos à polpa, com redução ou eliminação da perda de substância dentária e da hiperestesia dentinária. As nanopartículas apresentam elevada área superficial facilitando a disponibilidade do produto e a reorganização dos íons cálcio e fosfato na forma de hidroxiapatita. Por ser a bioatividade da estrutura dentária baixa, o uso de nanopartículas seria um grande diferencial nesta aplicação. Este produto viria a somar aos demais recursos remineralizantes e dessensibilizantes atualmente disponíveis.
Pastas com diferentes concentrações de nanoparticulas de HAP (1%, 5%, 10% e 15%) têm mostrado serem efetivas quando comparadas a grupo sem tratamento, sendo que a concentração que apresentou melhor efetividade na remineralização do esmalte foi a com 10% de nano-hidroxiapatita (Huang et al., 2009). Recentemente Dantas (2011) testou o efeito de produtos como as nanopartículas de HAP, o gel de oxalato de potássio e Pro-Relief (arginina) sobre a permeabilidade dentinária. Todos os produtos reduziram a permeabilidade após tratamento, porém somente o gel de oxalato de potássio conseguiu manter este resultado após ataque ácido (Dantas, 2011).
Clinicamente, ainda há pouca evidência e desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar o potencial do Desensibilize Nano P, uma pasta dessensibilizante e remineralizante bioativa baseada na inovadora tecnologia de nanopartículas de fosfato de cálcio destinada à aplicação profissional. Para isto, foi proposta sua comparação nos tempos imediato e a médio prazo a produto de proposta similar, Pro Relief/Pro Alívio profissional e caseiro (Colgate), ao gel de oxalato de potássio a 3% (Sensiactive, Ativus, Brasil, controle positivo) e ao verniz fluoretado (Duraphat). Os dados apresentados neste trabalho se referem aos resultados parciais desta pesquisa.
Material e Métodos
O projeto foi iniciado sob aprovação do CEP-FOB/USP. Os pacientes foram selecionados seguindo critérios pré-estabelecidos de inclusão (pelo menos 2 dentes pré-molares e molares com hiperestesia superior a 5, exposição radicular sem indicação de cirurgia periodontal e sem perda de estrutura dentária, ausência de lesão cariosa na área de interesse e inflamação gengival) e de exclusão de saúde bucal e geral (paciente com doenças crônicas, fumantes, usuários de medicamentos e de produtos para o tratamento de hiperestesia nos últimos seis meses).
Os pacientes na faixa etária entre 12 e 80 anos foram selecionados, devendo apresentar o mínimo de dor na faixa de 5, a qual foi avaliada utilizando-se uma escala visual analógica (EVA) variando de 0 a 10 cm (sem dor até dor insuportável) (Figura 1).
Após a seleção, em sessão de tratamento, os pacientes foram novamente submetidos à análise para confirmação das medidas, uma vez que a sensação dolorosa apresenta caráter de subjetividade, que pode ser influenciada pelo momento e condições do paciente. Os pacientes foram divididos de acordo com os tratamentos que foram realizados:
• Grupo 1 (NP): 3 aplicações profissionais tópicas de Desensibilize NanoP (nanopartículas de HAP a 20%, 9.000 ppm F na forma de NaF, FGM, Brasil), com um intervalo de 1 semana entre elas, totalizando 3 semanas de aplicação.
• Grupo 2 (SPR): 3 aplicações profissionais tópicas de Sensitive Pro Relief (Arginina 8%, Monofluorfostato de sódio 1,10%-1.450 ppm F, carbonato de cálcio, Colgate), com um intervalo de 1 semana entre elas, totalizando 3 semanas de aplicação.
• Grupo 3 (SPR+C): mesmo tratamento profissional do grupo 2 mais tratamento caseiro com o uso do dentifrício Sensitive Pro Alívio para higienização bucal, 2x ao dia, após o café da manhã e antes de dormir.
• Grupo 4 (S) (controle positivo): 3 aplicações profissionais tópicas do gel dessensibilizante à base de oxalato de potássio a 3%, contendo oxalato de potássio, ácido clorídrico, cloreto de benzalcônio, corante amarelo, carbomer 940 e água. (Sensiactive, Ativus farmacêutica Ltda, Valinhos-SP, Brasil), com intervalos semanais, totalizando 3 aplicações.
• Grupo 5 (D) (controle positivo): 3 aplicações tópicas profissionais do verniz fluoretado Duraphat contendo fluoreto a 2,26% (NaF), álcool a 33,1%, resina natural (colofônio, mastix, goma-laca), cera, sacarina e flavorizante (Colgate, Brasil), com intervalos semanais, totalizando 3 aplicações.
Para todos os grupos, com exceção do grupo 3 (SPR+C), os pacientes foram instruídos a realizar a higiene bucal com um escova extra-macia (Oral B) e dentifrício fluoretado (Condor) cedidos pelos pesquisadores. Em todas as fases de análise, um único examinador realizou as aferições, sempre utilizando a mesma cadeira odontológica e mesma seringa tríplice com pressão padronizada. Em cada uma das 3 sessões de aplicação dos produtos, as medições da sensação dolorosa foram realizadas no mínimo após 10 minutos de cada tratamento; após 1 semana e após 1 e 3 meses do tratamento. Além da análise da hiperestesia pelo estímulo do ar, a sonda exploratória também foi utilizada como estímulo mecânico para a sensibilidade.
Até o presente momento, 22 pacientes foram envolvidos neste estudo. Devido ao reduzido número amostral obtido, os resultados parciais (de até 3 meses de análise) fornecidos a seguir não foram submetidos à analise estatística (Tabela 1).
Resultados Parciais e Discussão
A Tabela 1 mostra a média da porcentagem de redução da hiperestesia dentinária pelos pacientes tratados com os diferentes produtos ao longo dos períodos de acompanhamento.
Essa análise representa a variação de sensibilidade, usando a escala analógica visual, em porcentagem. As análises estimuladas com o jato de ar (estímulo térmico) foram mais consistentes que as apresentadas por sonda (estímulo tátil/ mecânico), que muitas vezes não foi capaz de revelar nenhuma sensibilidade, mas que ao ar, respondiam de forma positiva. Dessa forma, a opção pela análise apenas com jato de ar foi a considerada nesta etapa.
A maioria dos pacientes apresentaram, ao final desse período, uma resposta favorável. As diferenças na evolução dessa melhora (alívio da sensação dolorosa) ainda devem ser relacionadas não apenas ao mecanismo que cada material propõe, mas também à variação da resposta individual de cada participante, que se revelou bastante heterogênea. Todos os materiais utilizados apresentam fundamentalmente como mecanismo de ação a obliteração superficial ou profunda dos túbulos dentinarios (Figura 2). De acordo com Dantas (2011), todos os tratamentos obliteradores avaliados foram capazes de reduzir a permeabilidade dentinária imediata, porém somente o Sensiactive manteve este efeito após desafio ácido (simulando um processo erosivo). Devemos considerar que no estudo laboratorial em questão os produtos foram aplicados sobre a dentina sem smear layer, sem a presença de saliva humana e a película adquirida, as quais poderiam ter importante impacto na reação e estabilização dos precipitados (oxalato de cálcio no caso do gel de oxalato de potássio, de cristais de HAP no caso do Desenzibilize NanoP ou de arginina mais fluoreto fracamente-CaF2 ou fortemente- FAP aderido no caso da Pro Relief).
A Figura 2 ilustra o padrão de deposição de cristais obliteradores do produto Desensibilize NanoP testado por Dantas 2011.
Pelos resultados preliminares obtidos até este momento, é interessante destacar a grande variabilidade na resposta dos pacientes logo após o tratamento. Este resultado é esperado, uma vez que a própria aplicação pode causar um estímulo doloroso e tornar a análise da dor ainda mais subjetiva. O tratamento com Desensibilize NanoP, reduziu expressivamente a sensibilidade dentinária imediata (até 1 semana) assim como o verniz fluoretado. Após 1 mês e 3 meses, o efeito do tratamento com o Desensibilize NanoP foi ainda mais expressivo, ao passo que o efeito do verniz fluoretado foi reduzido. Nos últimos meses de análise verificamos também uma melhora no efeito dos produtos Pro-Relief e Sensiactive, porém ainda inferiores em relação ao Desensibilize NanoP.
A partir dos dados parciais apresentados, podemos verificar que o Desensibilize NanoP apresenta efeito positivo na redução de hiperestesia dentinária no período avaliado de 3 meses, constituindo-se em uma importante opção de tratamento dessensibilizante.
Agradecimentos
Ao CNPq pela concessão do auxílio à pesquisa pelo Processo: 471555/2010-0.
Referências
Bissada NF. Symptomatology and clinical features of hypersensitive teeth. Arch Oral Biol. 1994; 39:31-32. Gillam DG, Khan N, Mordan NJ, Barber PM. Scanning electron microscopy (SEM) investigation of selected desensitizing agents in the dentine disc model. Endod Dent traumatol. 1999; 15:198-204. Huang SB, Gao SS, Yu HY. Effect of nano-hydroxyapatite concentration on remineralization of initial enamel lesion in vitro. Biomed Mater 2009; 4: 034104 Kishore A, Mehrotra KK, Saimbi CS. Effectiveness of desensitizing agents. J Endod. 2002; 28:34-5. Orchardson R, Gillam DG. Managing dentin hypersensitivity. J Am Dent Assoc. 2006; 137:990-8. Dantas L. Análise quantitativa e qualitativa da condutância hidráulica da dentina após tratamento com diferentes agentes dessensibilizantes. Estudo in vitro. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Odontologia de Bauru-USP. 2011; 117p. Porto IC, Andrade AK, Montes MA. Diagnosis and treatment of dentinal hypersensitivity. J Oral Sci. 2009;51:323-32. Rees JS, Addy M. A cross-sectional study of dentine hypersensitivity. J Clin Periodontol. 2002; 29:997-1003.