Neste caso clínico de odontopediatria, a criança possuía lesões cariosas, o tratamento foi a profilaxia e depois a restauração a partir da resina Opallis.
Autora: Dra. Robertha Tulio da Silva Maciel Braun dos Santos
Paciente – sexo e idade: Paciente do sexo masculino, 3 anos.
Queixa principal: A queixa dos pais era de que o paciente tinha dentes “fracos e quebradiços”. A estética dos dentes 61, 62, 51 e 52 incomodava bastante, principalmente em fotos. Também relataram questões comportamentais e a busca pela odontologia sem contenção física, o que tornou necessário o uso da sedação.
Desafio para a odontopediatria
As crianças apresentam uma maturidade psicológica, mental, emocional e física diferente diante de situações estressantes, bem como a não colaboração, mesmo após sessões de condicionamento e manejo do comportamento infantil.
Na odontopediatria, o controle do medo e da ansiedade pode ser realizado com métodos farmacológicos, como o uso de anti-histamínicos, benzodiazepínicos e inalação de N2O/O2; e métodos não farmacológicos, por meio da psicologia infantil.
A sedação consciente é uma técnica em que um ou mais fármacos são empregados para produzir uma leve depressão do sistema nervoso central, sem perda da consciência, de forma que o contato verbal possa ser sempre mantido com o paciente; isso permite que certos procedimentos odontológicos sejam realizados. A técnica está associada a uma grande margem de segurança (AAPD, 2011-2012).
As diretrizes da Academia Americana de Odontopediatria consideram-na uma técnica de controle básico segura e eficaz, que permite a redução da ansiedade da criança e promove melhorias na comunicação entre odontopediatra e o paciente.
É descrita como uma “técnica padrão” para a odontopediatria e como um procedimento de sucesso em 90% dos pacientes adequadamente selecionados.
A ansiedade e o medo associados ao tratamento dentário são situações envolvidas rotineiramente na prática profissional do cirurgião-dentista. Então, um procedimento dentário eficiente e seguro requer uma modificação no comportamento do paciente pediátrico para a redução do estresse e diminuição da percepção de dor durante o tratamento, criando um ambiente onde a criança aprenda a lidar com os seus medos e ansiedades (AAPD, 2011-2012).
Segundo a Academia Americana de Odontopediatria, a sedação consciente é indicada para pacientes pouco cooperantes e/ou muito ansiosos com o objetivo de minimizar o desconforto físico e a dor, controlar a ansiedade e o comportamento da criança, evitar o trauma psicológico e potenciar o efeito amnésico, assim como garantir a sua segurança, o seu bem-estar e também controlar os movimentos de modo a realizar um procedimento seguro e eficaz, permitindo a recuperação do estado de consciência inicial.
Avaliação clínica/radiográfica inicial
No dia da consulta foi feita a anamnese junto ao exame clínico, quando foi encontrada no paciente a presença de lesão cariosa em diversos dentes decíduos, porém sem fístulas e sem relatos de sintomatologia dolorosa. Após os exames, a mãe solicitou a manutenção dos dentes anteriores até a devida esfoliação natural.
Tratamento executado
O tratamento proposto foi dividido em duas fases, iniciando com a etapa estética dos dentes superiores.
Primeiro, o paciente foi condicionado com a técnica de sedação enteral por meio do uso do midazolam, para condicionamento e relaxamento. Após 15 minutos, já estava bem tranquilo. Em seguida, foi colocada a máscara nasal para a sedação inalatória, na proporção de 40% de gás óxido nitroso e 60% de oxigênio.
Antes do início do procedimento, o paciente foi monitorado durante cerca de 10 minutos por um oxímetro de mesa, quando se verificou uma saturação em repouso com SpO2 de 99 e 112 bpm.
Então, deu-se início à profilaxia, seguida pelo protocolo restaurador direto com isolamento relativo, com o uso da resina Opus Bulk Fill Flow APS e da resina composta Opallis B 0,5, em uma única sessão, nos dentes 51, 52, 61 e 62. Não foi feita a colocação do abridor de boca no paciente para não o acordar.
Passo a passo
Figuras 1 e 2 – Radiografia periapical dos dentes anteriores superiores.
Figura 3 – Foto inicial.
Condicionamento comportamental: após a sedação do paciente, foi feito o isolamento relativo com rolete de algodão. Devido à técnica de sedação, foi possível controlar melhor a secagem do campo operatório.
Figura 4 – Realização do condicionamento com Condac 37% por 20 segundos em esmalte e 15 segundos em dentina. Após, foi feita a lavagem e secagem com jatos de ar à distância. Na sequência, procedeu-se a aplicação do adesivo Ambar APS em duas camadas, também com jatos de ar à distância e fotopolimerização por 10 segundos.
Figura 5 – Preenchimento das cavidades incisais e vestibulares dos dentes 52, 51, 62 e 61 com resina Opus Bulk Fill Flow APS A1 e fotopolimerização em cada área por 20 segundos.
Figura 6 – Preenchimento e escultura com resina Opallis B 0,5, respeitando a anatomia dos dentes, com a ajuda de um pincel fino, fotopolimerizando cada área por 20 segundos. Na sequência, foi feito o acabamento e polimento com discos de polimento Diamond Pro de forma mais rápida, pois o paciente começava a apresentar inquietação pelo pico de sedação já passado. Assim, os demais acompanhamentos ficaram para as próximas consultas.
Figura 7 – Resultado final.
Figuras 8 e 9 – Antes e depois.
Conclusão
O caso clínico em questão aborda um paciente pediátrico, com diagnósticos anteriores de exodontia, por ser mais fácil a resolução do grande desconforto, principalmente dos pais, com a aparência do sorriso da criança. O planejamento foi traçado após verificação de ausência de quadro infeccioso e inflamatório, ausência de sintomatologia dolorosa e estudado o raio X.
Notam-se todos os benefícios da sedação na odontologia como aliada no controle comportamental de crianças com traumas anteriores. Além disso, a sedação é uma grande aliada também na devolução do sorriso e estética do paciente pediátrico, principalmente pela tranquilidade no manejo, e contribui de forma significativa para a durabilidade dos resultados dos tratamentos, manutenção de um campo de trabalho seco e controlado – uma das maiores dificuldades em odontopediatria -, otimização do tempo do paciente na cadeira, ausência de traumas, redução do uso de anestésicos locais e criação de laços de confiança com o profissional; tudo isso sem a aplicação de meios imperativos.
Ainda, o uso de materiais restauradores de fácil manuseio, como os utilizados no tratamento restaurador do paciente, proporcionam o que atualmente é muito complexo na odontopediatria, tanto pelo pouco tempo que temos para realizar os protocolos restauradores quanto pela não colaboração dos pacientes pediátricos. A escolha do material, principalmente pela baixa tensão e contração na polimerização, fácil inserção e adaptação, especialmente para o preenchimento de cavidades com até 4 mm, nesses pacientes mais difíceis, mesmo com o uso da sedação, é crucial para otimizar e termos sucesso no tratamento.
As resinas compostas usadas proporcionam maior tempo de trabalho em campo operatório iluminado e oferecem ótima consistência para manipulação e montagem da anatomia em decíduos, com complemento da Opallis B 0,5, sendo possível chegar à cor “mais branca”, tão desejada pelos pais, acompanhando com naturalidade os demais dentes decíduos.
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Bibliografia
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